A verdadeira inclusão digital: O Projeto Alice
Por Jomar Silva -Colunista do Ada Digital. Diretor Geral da ODF Alliance Chapter Brasil. Fonte: http://www.adadigital.com.br/
I. O que é o Projeto Alice ?
“O
Projeto Alice é um Sistema operacional aliado a um conjunto de Métodos
e Ferramentas que possuem como primícia a integração entre pessoas.
Apesar de ter iniciado o Alice como um sistema operacional para
deficientes visuais, percebi que seria impossível falar em inclusão,
seja qual for, segregando as pessoas. Ainda há a possibilidade de
aplicação dos mesmos conceitos para outras áreas, como deficientes
auditivos, físicos, auxílio no desenvolvimento de raciocínio e fala,
possibilitando ainda a adequação para o processo de alfabetismo.
Com
isso, definimos o Alice hoje como uma possibilidade de incluirmos
pessoas, desenvolvendo métodos e criando ferramentas que possibilitem a
integração, seja de quem for, usando o mesmo sistema computacional.
Pode parecer audacioso demais, porém, o Alice tem como base 3 aspectos:
1. Dar acessibilidade real a uma pessoa com deficiência visual ao seu
computador, possibilitando ações como configurar sua placa de rede,
definir um comportamento novo para o sistema, verificar o conteúdo de
seu pen-drive o que não era possível usando outras ferramentas. O Alice
não é uma ferramenta que faz leitura de tela, ele é um sistema
Operacional que permite a integração total de pessoas ao seu micro. As
ferramentas proprietárias que possibilitam uma interação maior nos
micros são bem caras, o que torna inviável o acesso a pessoas de baixa
renda. Em meu entendimento, a grande maioria das pessoas com
Deficiência Visual estará distante da realidade dessas ferramentas.
2. Permitir que pessoas, com ou sem alguma "necessidade" possam estar
integrando o mesmo momento em salas de aula, equipes de pesquisa e o
mais importante, usando o mesmo sistema operacional, bastando
identificar-se por um login. O maior desafio do Alice tem sido integrar
soluções que possibilitem este cenário. Deixar a responsabilidade de
adaptação de toda uma estrutura operacional ao processo de login, tem
sido nosso grande desafio e motivação. "Caso seja necessário algum tipo
de adaptação, faça. Caso não seja , Não faço nada e me comporto como um
GNU/Linux comum". Essa é a mentalidade do Alice.
3. Sonhamos com a possibilidade de termos no Alice equipes pesquisando
e desenvolvendo tecnologias para pessoas com deficiência auditiva e
física ainda para 2009. ”
II. Quando e por que você iniciou o projeto ?
“O
projeto teve início em 2003 após ter descoberto que minha filha perdera
a visão. Depois pelo amor que senti por todas as possibilidades que o
Alice traria para um conjunto de pessoas esquecidas. Hoje o Alice é
minha vida e temos desafios bem maiores. Nossa meta é transformar o
Alice em um centro de pesquisa e desenvolvimento para tecnologias de
inclusão real. ”
III. Em que status o projeto se encontra hoje ?
“A
concepção do projeto está pronta. Hoje estamos criando o Instalador
para deficientes poderem fazer suas próprias instalações, inclusive
determinando novo conjunto de partições e os processos que isso
envolve. Estamos trabalhando no Kernel pois nossa meta é que o Alice
seja o mais leve possível, podendo ser usado por qualquer um que tenha
uma máquina com 256 MB de memória RAM.
Por
ter o conceito de interromperabilidade, pesquisamos a melhor maneira de
desenvolver a distro para pen-drive nativo. Ou seja, em qualquer lugar
do mundo uma pessoa que possua o Alice instalado no pen possa usar o
mesmo para suas atividades, não sendo mais necessário instalação ou
adequação de máquina. O Único processo a ser feito é o bootstraping do
sistema pelo pen.
Outra
melhoria que pretendemos é o processo de áudio, no caso de ajustes para
deficientes visuais. Queremos que o Alice seja o mais próximo das
ferramentas proprietárias possível.
Outro
fator importante foram algumas ações desenvolvidas neste ultimo mês.
Assinamos com a Universidad Tecnológica Intercontinental – UTIC, em
Asunción, Paraguay, a carta de intensão para o desenvolvimento, ajustes
e melhorias do Alice, aplicados a realidades locais, além do estudo de
viabilidade de tradução para o Guarani. Temos ainda o processo que
estamos desenvolvendo em Macapá, estado do Amapá, tendo como parceiros
a Faculdade de Macapá e o CAP, Centro de Apoio Pedagógico para Educação
de Deficientes visuais, passo importante para a evolução da educação
especial. Com essas parcerias acreditamos no primeiro processo de
inclusão que conhecemos entre Países, usando a mesma tecnologia,
adaptada para as realidades locais.
Uma
parceria importante em toda a nova etapa do Alice foi com o Everaldo
Canuto, Novell. Ele nos liberou uma ferramenta que ajuda muito no
processo de desenvolvimento do sistema, com muito mais dinamismo e
continuidade. A nova versão do Alice está totalmente desenvolvida com
essa ferramenta. Esperamos melhores resultados.
Tudo isso forma o Projeto Alice. ”
IV. Do que o projeto mais precisa hoje e como podemos ajudar ?
“Nossa,
o Projeto necessita de tudo. Desde um local fixo para desenvolvermos,
já que todo o desenvolvimento é feito por mim e mais 2 pessoas. Nos
encontramos cada semana na casa de um para reuniões rápidas e
objetivas. Precisamos de investimentos para termos uma equipe dedicada
e isso nos daria a possibilidade de termos melhoras consideráveis no
Alice. Todo o Projeto é desenvolvido por mim e pelos dois
desenvolvedores de madrugada e em encontros semanais. Ainda temos
nossos empregos e isso nos deixa em certos momentos exaustos sem
condições de cumprirmos alguns prazos e nos limita nas possibilidades
de participação de eventos para demonstrarmos o Alice e buscarmos
parceiros. O projeto chegou a um ponto que dedicação é fundamental para
a evolução do mesmo.
A
forma como podem ajudar é simples.. O que sabem fazer ? Precisamos de
toda a ajuda. Desde pequenas traduções, ajustes em sintetizadores,
testes e avaliações mais precisas e confiáveis, pessoas que possam nos
ajudar a desvendar novos universos como o universo de pessoas com
deficiência auditiva, motoras e por ai vai.
Nosso sonho é que o Alice realmente se preocupe com pessoas e que possamos mudar, para um pouco melhor o universo delas.”
Na
cerimônia de encerramento do Latinoware, uma garota com deficiência
visual fez questão de subir ao palco para dar seu depoimento, pois
acabara de conhecer o Projeto Alice. De forma resumida, ela agradeceu
ao Clayton por ter lhe possibilitado com o sistema voltar a estudar
tecnologia e utilizar de forma adequada um computador. Agora ela se
sentia parte da sociedade novamente (não preciso dizer que o depoimento
tirou lágrimas dos olhos de todos que estavam no auditório).
O
site do projeto deve ficar pronto em Janeiro e quem quiser mais
informações sobre o projeto e quiser ajudar o Clayton, pode contata-lo
através do e-mail clayton.lobato @ gmail.com. Toda ajuda será bem vinda.