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A verdadeira inclusão digital: O Projeto Alice

por Paloma Costa última modificação 2009-07-03 21:00

Por Jomar Silva -Colunista do Ada Digital. Diretor Geral da ODF Alliance Chapter Brasil. Fonte: http://www.adadigital.com.br/

I. O que é o Projeto Alice ?

“O Projeto Alice é um Sistema operacional aliado a um conjunto de Métodos e Ferramentas que possuem como primícia a integração entre pessoas. Apesar de ter iniciado o Alice como um sistema operacional para deficientes visuais, percebi que seria impossível falar em inclusão, seja qual for, segregando as pessoas. Ainda há a possibilidade de aplicação dos mesmos conceitos para outras áreas, como deficientes auditivos, físicos, auxílio no desenvolvimento de raciocínio e fala, possibilitando ainda a adequação para o processo de alfabetismo.

Com isso, definimos o Alice hoje como uma possibilidade de incluirmos pessoas, desenvolvendo métodos e criando ferramentas que possibilitem a integração, seja de quem for, usando o mesmo sistema computacional.

Pode parecer audacioso demais, porém, o Alice tem como base 3 aspectos:

1. Dar acessibilidade real a uma pessoa com deficiência visual ao seu computador, possibilitando ações como configurar sua placa de rede, definir um comportamento novo para o sistema, verificar o conteúdo de seu pen-drive o que não era possível usando outras ferramentas. O Alice não é uma ferramenta que faz leitura de tela, ele é um sistema Operacional que permite a integração total de pessoas ao seu micro. As ferramentas proprietárias que possibilitam uma interação maior nos micros são bem caras, o que torna inviável o acesso a pessoas de baixa renda. Em meu entendimento, a grande maioria das pessoas com Deficiência Visual estará distante da realidade dessas ferramentas.

2. Permitir que pessoas, com ou sem alguma "necessidade" possam estar integrando o mesmo momento em salas de aula, equipes de pesquisa e o mais importante, usando o mesmo sistema operacional, bastando identificar-se por um login. O maior desafio do Alice tem sido integrar soluções que possibilitem este cenário. Deixar a responsabilidade de adaptação de toda uma estrutura operacional ao processo de login, tem sido nosso grande desafio e motivação. "Caso seja necessário algum tipo de adaptação, faça. Caso não seja , Não faço nada e me comporto como um GNU/Linux comum". Essa é a mentalidade do Alice.

3. Sonhamos com a possibilidade de termos no Alice equipes pesquisando e desenvolvendo tecnologias para pessoas com deficiência auditiva e física ainda para 2009. ”

II. Quando e por que você iniciou o projeto ?

“O projeto teve início em 2003 após ter descoberto que minha filha perdera a visão. Depois pelo amor que senti por todas as possibilidades que o Alice traria para um conjunto de pessoas esquecidas. Hoje o Alice é minha vida e temos desafios bem maiores. Nossa meta é transformar o Alice em um centro de pesquisa e desenvolvimento para tecnologias de inclusão real. ”

III. Em que status o projeto se encontra hoje ?

“A concepção do projeto está pronta. Hoje estamos criando o Instalador para deficientes poderem fazer suas próprias instalações, inclusive determinando novo conjunto de partições e os processos que isso envolve. Estamos trabalhando no Kernel pois nossa meta é que o Alice seja o mais leve possível, podendo ser usado por qualquer um que tenha uma máquina com 256 MB de memória RAM.

Por ter o conceito de interromperabilidade, pesquisamos a melhor maneira de desenvolver a distro para pen-drive nativo. Ou seja, em qualquer lugar do mundo uma pessoa que possua o Alice instalado no pen possa usar o mesmo para suas atividades, não sendo mais necessário instalação ou adequação de máquina. O Único processo a ser feito é o bootstraping do sistema pelo pen.

Outra melhoria que pretendemos é o processo de áudio, no caso de ajustes para deficientes visuais. Queremos que o Alice seja o mais próximo das ferramentas proprietárias possível.

Outro fator importante foram algumas ações desenvolvidas neste ultimo mês. Assinamos com a Universidad Tecnológica Intercontinental – UTIC, em Asunción, Paraguay, a carta de intensão para o desenvolvimento, ajustes e melhorias do Alice, aplicados a realidades locais, além do estudo de viabilidade de tradução para o Guarani. Temos ainda o processo que estamos desenvolvendo em Macapá, estado do Amapá, tendo como parceiros a Faculdade de Macapá e o CAP, Centro de Apoio Pedagógico para Educação de Deficientes visuais, passo importante para a evolução da educação especial. Com essas parcerias acreditamos no primeiro processo de inclusão que conhecemos entre Países, usando a mesma tecnologia, adaptada para as realidades locais.

Uma parceria importante em toda a nova etapa do Alice foi com o Everaldo Canuto, Novell. Ele nos liberou uma ferramenta que ajuda muito no processo de desenvolvimento do sistema, com muito mais dinamismo e continuidade. A nova versão do Alice está totalmente desenvolvida com essa ferramenta. Esperamos melhores resultados.

Tudo isso forma o Projeto Alice. ”

IV. Do que o projeto mais precisa hoje e como podemos ajudar ?

“Nossa, o Projeto necessita de tudo. Desde um local fixo para desenvolvermos, já que todo o desenvolvimento é feito por mim e mais 2 pessoas. Nos encontramos cada semana na casa de um para reuniões rápidas e objetivas. Precisamos de investimentos para termos uma equipe dedicada e isso nos daria a possibilidade de termos melhoras consideráveis no Alice. Todo o Projeto é desenvolvido por mim e pelos dois desenvolvedores de madrugada e em encontros semanais. Ainda temos nossos empregos e isso nos deixa em certos momentos exaustos sem condições de cumprirmos alguns prazos e nos limita nas possibilidades de participação de eventos para demonstrarmos o Alice e buscarmos parceiros. O projeto chegou a um ponto que dedicação é fundamental para a evolução do mesmo.

A forma como podem ajudar é simples.. O que sabem fazer ? Precisamos de toda a ajuda. Desde pequenas traduções, ajustes em sintetizadores, testes e avaliações mais precisas e confiáveis, pessoas que possam nos ajudar a desvendar novos universos como o universo de pessoas com deficiência auditiva, motoras e por ai vai.

Nosso sonho é que o Alice realmente se preocupe com pessoas e que possamos mudar, para um pouco melhor o universo delas.”

Na cerimônia de encerramento do Latinoware, uma garota com deficiência visual fez questão de subir ao palco para dar seu depoimento, pois acabara de conhecer o Projeto Alice. De forma resumida, ela agradeceu ao Clayton por ter lhe possibilitado com o sistema voltar a estudar tecnologia e utilizar de forma adequada um computador. Agora ela se sentia parte da sociedade novamente (não preciso dizer que o depoimento tirou lágrimas dos olhos de todos que estavam no auditório).

O site do projeto deve ficar pronto em Janeiro e quem quiser mais informações sobre o projeto e quiser ajudar o Clayton, pode contata-lo através do e-mail clayton.lobato @ gmail.com. Toda ajuda será bem vinda.

Se você ficou em dúvida sobre ajudar ou não o projeto, não se esqueça que ainda não existe vacina contra deficiência (e você pode estar ajudando a você mesmo daqui a algum tempo).
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